" Se a sorte foi um dia alheia ao meu sustento, não houve harmonia entre ação e pensamento."

"Se a sorte foi um dia alheia ao meu sustento, não houve harmonia entre ação e pensamento." - Renato Russo

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Antecedentes do Naturalismo Brasileiro


Por Gustavo Lourenço da Silva
 
O florescimento tardio do realismo no Brasil se deve precisamente ao desalinhamento dos escritores nacionais da época em relação às tendências globais e também as condições políticas e sociais do próprio país, sendo determinado também pelo idealismo e distanciamento da realidade social promovido pelo romantismo, muito em voga ainda dentre os autores brasileiros do período. As novas concepções suscitadas pelo progresso científico e industrial do século XIX aos poucos foi tirando de cena à influência romântica na literatura dando lugar ao realismo. O evolucionismo de Darwin, o positivismo, o socialismo somavam-se ao progresso científico que formava a estrutura do pensamento contemporâneo, modificando os conceitos filosófico, literários e sociais, que levariam mais de vinte anos para atravessar o atlântico e atracar em terras brasileiras. Só em 1874 no Rio de Janeiro que pela primeira vez foram citados os pensamentos de Darwin e Auguste Comte, segundo afirma Sílvio Romero, e só a partir de 1880 essas influências modificam de modo sensível o nosso panorama artístico, sendo a ascensão do realismo e naturalismo uma revolução literária aceita antes pelo público do que pelos escritores que se agarravam ainda a concepção de mundo romântica.

O realismo ascende no Brasil então valorizando a razão e crítica social, exigindo uma total revisão de valores, e só quando o realismo no mundo se exagerou no naturalismo ganhando aquela rigidez e agressiva que facilitou o êxito retumbante do Francês, Émile Zola, e do Português, Eça de Queirós, é que se instalou definitivamente no Brasil, com Aluísio de Azevedo em O Cortiço. Foi então o escritor Zola, a partir da França um dos principais disseminadores da tendência naturalista na Europa. Radicalizando o realismo do também francês Flaubert, que propõe para o romance o objetivo de representar a realidade social com absoluta franqueza, inclusive os fenômenos patológicos e a vida sexual, se apoiando na teoria do biólogo Claude Bernard sobre a hereditariedade das doenças e dos vícios que exemplificariam a decadência da sociedade francesa do século XIX, sendo muito criticado por setores conservadores da sociedade e também por liberais que consideravam a franqueza brutal do discurso uma calúnia ao povo.

Enquanto a polêmica das novas concepções de expressões do pensamento contemporâneo escandalizava a pacata burguesia anestesiada pelo pensamento romântico, a influência naturalista ganha força através do determinismo científico, estabelecendo uma relação de experiência fisiológica entre o romancista e o cientista, levando à Zola a afirmar na década de 60 que “o tipo ideal de romance é aquele que perscruta, em termos gerais, a natureza do homem” considerando que o homem é governado pelas leis da hereditariedade e pelas pressões do ambiente em que se está inserido como indivíduo. Assim, Émile Zola considerava Balzac e Stendhal como os dois pioneiros do romance naturalista, acreditando ser uma corrente irreprimível do progresso que espelha o novo mundo utilizando os métodos da ciência moderna.

No campo da pintura também essas novas ideias refletiram mudanças plásticas na construção de uma estética realista-naturalista, apesar de ter sido na literatura onde se travou a verdadeira batalha tendo o romance como grande oficina de transformação da arte, enfrentou a resistência da academia, o que aconteceu com outras correntes artísticas como o cubismo e o expressionismo quando foram concebidos, criando um novo critério de compreensão sensível da obra, sendo este critério identificado no realismo e naturalismo como a representação crua e deslumbrante da realidade, imperfeita e escandalosa para o senso da época. Émile Zola também ajudou a defender a pintura de Manet em relação à crítica, elogiando o desafio que artista propunha as convenções acadêmicas de arte, caracterizando-a “com sua deselegância surpreendentemente elegante, onde o nu é tão indecente quanto o é na verdade”. No Brasil também surgem os que incorporaram sua pintura aos moldes desta nova tendência, como é o caso de Almeida Júnior, artista nascido na cidade de Itu, um dos municípios da cidade de São Paulo, em 1850, acompanhando o lento processo do afloramento dessas tendências no Brasil já se envolvendo com a pintura a partir de sua adolescência nas décadas de 60 e 70, chegando a estabelecer em 1876 projeções e reconhecimento internacionais por sua arte, tendo desenvolvido sua técnica e estilo durante seus estudos no Brasil e também na França e Roma. O triste fim de Almeida Júnior fez contraste com a verdade viva com que retratou os ambientes brasileiros e o povo que dele se servia, atendo-se as classes rurais mais pobres, faz do caipira e a dura realidade da sua vida temas recorrentes de suas obras. O consagrado pintor brasileiro foi no ano de 1899, tragicamente assassinado por um parente próximo devido um triângulo amoroso em que se viu metido, Almeida Júnior tombou com uma facada na altura do pescoço que terminou sua vida aos 49 anos e a brilhante carreira de pintor em poucos minutos.

 A seguir algumas Obras de Almeida Júnior:


 O Violeiro - 1899


 Caipira Picando Fumo - 1893



 Saudade - 1899


 Amolação Interrompida - 1894


Caipiras Negaceando - 1888

Nenhum comentário:

Seguidores