Por Gustavo Lourenço da Silva
O florescimento tardio do realismo no Brasil se deve
precisamente ao desalinhamento dos escritores nacionais da época em relação às
tendências globais e também as condições políticas e sociais do próprio país,
sendo determinado também pelo idealismo e distanciamento da realidade social
promovido pelo romantismo, muito em voga ainda dentre os autores brasileiros do
período. As novas concepções suscitadas pelo progresso científico e industrial
do século XIX aos poucos foi tirando de cena à influência romântica na
literatura dando lugar ao realismo. O evolucionismo de Darwin, o positivismo, o
socialismo somavam-se ao progresso científico que formava a estrutura do pensamento
contemporâneo, modificando os conceitos filosófico, literários e sociais, que
levariam mais de vinte anos para atravessar o atlântico e atracar em terras
brasileiras. Só em 1874 no Rio de Janeiro que pela primeira vez foram citados
os pensamentos de Darwin e Auguste Comte, segundo afirma Sílvio Romero, e só a
partir de 1880 essas influências modificam de modo sensível o nosso panorama
artístico, sendo a ascensão do realismo e naturalismo uma revolução literária
aceita antes pelo público do que pelos escritores que se agarravam ainda a
concepção de mundo romântica.
O realismo ascende no Brasil então valorizando a razão e
crítica social, exigindo uma total revisão de valores, e só quando o realismo
no mundo se exagerou no naturalismo ganhando aquela rigidez e agressiva que
facilitou o êxito retumbante do Francês, Émile Zola, e do Português, Eça de
Queirós, é que se instalou definitivamente no Brasil, com Aluísio de Azevedo em
O Cortiço. Foi então o escritor Zola, a partir da França um dos principais
disseminadores da tendência naturalista na Europa. Radicalizando o realismo do
também francês Flaubert, que propõe para o romance o objetivo de representar a
realidade social com absoluta franqueza, inclusive os fenômenos patológicos e a
vida sexual, se apoiando na teoria do biólogo Claude Bernard sobre a
hereditariedade das doenças e dos vícios que exemplificariam a decadência da
sociedade francesa do século XIX, sendo muito criticado por setores
conservadores da sociedade e também por liberais que consideravam a franqueza
brutal do discurso uma calúnia ao povo.
Enquanto a polêmica das novas concepções de expressões do
pensamento contemporâneo escandalizava a pacata burguesia anestesiada pelo
pensamento romântico, a influência naturalista ganha força através do
determinismo científico, estabelecendo uma relação de experiência fisiológica
entre o romancista e o cientista, levando à Zola a afirmar na década de 60 que
“o tipo ideal de romance é aquele que perscruta, em termos gerais, a natureza
do homem” considerando que o homem é governado pelas leis da hereditariedade e
pelas pressões do ambiente em que se está inserido como indivíduo. Assim, Émile
Zola considerava Balzac e Stendhal como os dois pioneiros do romance
naturalista, acreditando ser uma corrente irreprimível do progresso que espelha
o novo mundo utilizando os métodos da ciência moderna.
No campo da pintura também essas novas ideias refletiram
mudanças plásticas na construção de uma estética realista-naturalista, apesar
de ter sido na literatura onde se travou a verdadeira batalha tendo o romance
como grande oficina de transformação da arte, enfrentou a resistência da
academia, o que aconteceu com outras correntes artísticas como o cubismo e o
expressionismo quando foram concebidos, criando um novo critério de compreensão
sensível da obra, sendo este critério identificado no realismo e naturalismo como
a representação crua e deslumbrante da realidade, imperfeita e escandalosa para
o senso da época. Émile Zola também ajudou a defender a pintura de Manet em
relação à crítica, elogiando o desafio que artista propunha as convenções acadêmicas
de arte, caracterizando-a “com sua deselegância surpreendentemente elegante,
onde o nu é tão indecente quanto o é na verdade”. No Brasil também surgem os que
incorporaram sua pintura aos moldes desta nova tendência, como é o caso de
Almeida Júnior, artista nascido na cidade de Itu, um dos municípios da cidade
de São Paulo, em 1850, acompanhando o lento processo do afloramento dessas tendências
no Brasil já se envolvendo com a pintura a partir de sua adolescência nas
décadas de 60 e 70, chegando a estabelecer em 1876 projeções e reconhecimento internacionais
por sua arte, tendo desenvolvido sua técnica e estilo durante seus estudos no
Brasil e também na França e Roma. O triste fim de Almeida Júnior fez contraste
com a verdade viva com que retratou os ambientes brasileiros e o povo que dele
se servia, atendo-se as classes rurais mais pobres, faz do caipira e a dura realidade
da sua vida temas recorrentes de suas obras. O consagrado pintor brasileiro foi
no ano de 1899, tragicamente assassinado por um parente próximo devido um triângulo amoroso em que se viu metido, Almeida Júnior tombou com uma facada na
altura do pescoço que terminou sua vida aos 49 anos e a brilhante carreira de
pintor em poucos minutos.
A seguir algumas Obras de Almeida Júnior:
O Violeiro - 1899
Caipira Picando Fumo - 1893
Saudade - 1899
Amolação Interrompida - 1894
Caipiras Negaceando - 1888
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